sexta-feira, 27 de julho de 2012

George Macdonald na Revista Communio

Embora publicado em 2008, só muito recentemente tomei conhecimento do artigo A Nostalgia do Éden: A Lilith de George Macdonald, do Padre Noel Dermot O'Donoghue, na Revista Communio. Aliás, foi Márcia Xavier de Brito, uma das editoras da revista, quem muito gentilmente mo enviou. Agradeço vivamente à Márcia e reproduzo abaixo um trecho do artigo:



A Nostalgia do Éden: A Lilith de George MacDonald*
 
Padre Noel Dermot O’Donoghue, O.D.Carm.

George MacDonald (1824-1905) foi conhecido em sua época como um romancista romântico e religioso. Também como um poeta e pregador. Como ministro da Igreja Presbiteriana Escocesa, ele não seguiu o modelo tradicional – de fato, este foi o principal motivo pelo qual teve de viver como escritor –, embora tenha permanecido, por toda a vida, um cristão profundamente imerso na tradição calvinista da grandeza e majestade de Deus. Porém, o Deus de MacDonald não representa um céu impenetrável, dogmático e fechado, mas um horizonte aberto, como o alvorecer sobre as colinas ou sobre o mar, pleno de atração e pleno de esperança: o Deus da imaginação, criador e figura arquetípica da imaginação humana.

Em seu ensaio – por muito tempo ignorado, mas que agora é celebrado – “The Imagination: Its Functions and Culture” [A imaginação: Suas funções e cultura][1], escrito em 1867, mas somente publicado após o falecimento do autor, MacDonald admite livremente os perigos da faculdade da imaginação, especialmente em suas primeiras manifestações e ainda alega que “a imaginação do homem é feita à imagem da imaginação de Deus” e que “uma imaginação sábia, que é a presença do Espírito de Deus, é o melhor guia que o homem ou a mulher podem ter”. Estas são afirmações fortes, e podem à primeira vista parecer retóricas, mas embora o ensaio em que elas aparecem seja bem adornado com retórica, sua apoteose de imaginação é que é central para todo o mundo de MacDonald, seja como escritor, seja como pensador religioso.

 Deve ser observado atentamente que MacDonald fala da “imaginação sábia”. Isto significa que a imaginação não é vista como uma coisa desencadeada pela força do pensamento e presa, apesar de ter de ser obtida pela reflexão cuidadosa e equilibrada, por conexão com uma viva tradição pessoalmente apropriada. A imaginação é, na verdade, livre, e pode, de fato, ser definida como o uso livre das imagens proporcionadas pela observação e pela memória, porém, se for para mantê-la aberta à “presença do Espírito de Deus”, é preciso vê-la sempre para cima e para fora, longe de limites e limitando o egoísmo e a possessividade: especialmente aqui ela precisa ser livre. Ela pode nos guiar seguramente em direção à terra do desejo do coração, mas somente se desejarmos libertar-se e separar-se da servidão do egoísmo e da auto-indulgência, do dogmatismo morto e da obrigação meramente confortável. Somente aos “puros de coração” dos Evangelhos, somente àqueles que alcançaram algo da “grandeza de alma” da qual Aristóteles (384-322 a.C.) falou; é essa viagem feita de acordo com os ventos refrescantes e perfumados do Espírito de Deus. Somente assim podemos nos lançar adiante nas profundas águas da imaginação para procurar o paraíso perdido do Gênesis, a Terra da Juventude (Teernanogue) do folclore Celta.
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* Artigo publicado, originalmente, em The Chesterton Review, Volume XXVII, Numbers 1 & 2 (February / May 2001): 39-45. Os direitos autorais, em língua portuguesa, foram gentilmente fornecidos pelo editor para o Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP), que autorizou a publicação do mesmo nessa edição da Communio. Texto traduzido do original, em inglês, para o português, por Márcio Nicodemos.
[1] MACDONALD, George. “The Imagination: Its Functions and Culture”. In: A Dish of Orts: Chiefly Papers on the Imagination, and on Shakespeare. London: Edwin Dalton, Reprinted Edition, 1908.

domingo, 22 de julho de 2012

Ainda a Antologia

Nota prévia

Os excertos aqui apresentados fazem parte da antologia de George Macdonald preparada por C. S. Lewis. A tradução foi feita de maneira mais ou menos aleatória e, portanto, é possível que alguns dos trechos pareçam demasiado vagos ou descontextualizados. Peço antecipadamente desculpas por isso e espero que se tenha em mente, mesmo nos casos em que a fala de Macdonald soa controvertida, que há duas escolhas arbitrárias: uma do Lewis, ao selecionar o que constaria na antologia; e a outra minha, ao selecionar o trecho a ser traduzido. No volume, Lewis cita diversos excertos seguidos de uma mesma fonte, geralmente um sermão ou um romance, o que dá uma certa coerência à Antologia; aqui, essa coerência se perde. Infelizmente! 

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Não

Quando dizemos que Deus é amor, ensinamos aos homens que o temor a Deus é infundado? Não. O temor virá sobre eles na mesma medida, ou talvez até mais... A ira consumirá aquilo que eles chamam “meu próprio ser”; de modo que o ser que Deus criou possa aparecer.

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A lei da natureza

Pois aquilo que não pode ser abalado deve permanecer. Aquilo que é imortal em Deus deve permanecer no homem. A morte que está nos homens deve ser consumida. É a lei da natureza – isto é, a lei de Deus – que tudo o que é destrutível seja destruído.

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É impossível fugir

O homem cujas obras são más teme o fogo. Mas o fogo não deixará de vir sobre ele caso não o tema ou o negue. Não há esperança de fuga. Pois o amor é inexorável. Nosso Deus é um fogo consumidor. “Ele não sairá até dali até que tenha pago o último centavo” (Mt 5, 26).

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A palavra

Mas neste ponto está a própria Bíblia bastante equivocada. Em lugar algum ela pretende ser a Palavra, o Caminho, a Verdade. A Bíblia nos leva a Jesus, a inesgotável e permanente Revelação de Deus. É Cristo “em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” – não a Bíblia – que nos salva ao nos conduzir a Deus.

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Assassinato espiritual

É infinitamente menos pecaminoso matar um homem do que recusar-se a perdoá-lo. O primeiro pode ser o ato de um momento de ira: o último é uma escolha do coração. É assassinato espiritual, o pior, odiar, ruminar o sentimento que exclui, que, em nosso microcosmo, mata a imagem, a ideia do odiado.

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Sequidão

E quando o homem já não pode sentir a verdade, não deve, por causa disso, morrer. Vive porque Deus é verdadeiro. E o homem, tendo uma vez compreendido a palavra, é capaz de reconhecer que vive porque sabe que Deus é a verdade. Ele crê no Deus da primeira visão, e assim vive por aquela palavra quando tudo está escuro e não há visão.

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Eli, Eli

Ele não podia ver nem senti-Lo próximo; e mesmo assim clama “Meu Deus”. Assim, a vontade de Jesus, no exato momento em que sua fé parece prestes a definhar, é finalmente triunfante. Agora já não há sentimento a sustentá-la, nem visão beatífica para absorvê-la. Permanece nua e torturada em sua alma, como ele esteve nu e açoitado diante de Pilatos. Puro e simples, e cercado por fogo, ele se declara em favor de Deus.

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Está consumado

... quando a agonia da morte já passou, quando a tempestade do mundo se dissipa atrás de Seu espírito em retiro, Ele adentra em regiões onde só há vida e, portanto, tudo o que não é música é silêncio...

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Membros uns dos outros

Nunca seremos capazes de repousar no colo do Pai até que a paternidade seja plenamente revelada a nós no amor dos irmãos. Pois Ele não pode ser nosso Pai, a menos que seja Pai de nossos irmãos também; e se não O vemos e não O sentimos como Pai deles, não podemos reconhecê-lo como nosso.

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A lei moral

Para que serve, então, a Lei? Para levar-nos a Cristo, a verdade. Para despertar em nossas mentes um senso daquilo que nossa natureza mais profunda – a saber, a presença de Deus em nós – requer de nós; para nos fazer saber, em parte por nosso fracasso, que os mais puros esforços da vontade de que somos capazes não podem nos elevar sequer a deixar de cometer injustiças contra nosso próximo.

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O mesmo

A fim de cumprir à lei mais comum... devemos subir a uma região mais alta, uma região acima da lei, porque é espírito e a vida e forja a lei.