domingo, 20 de abril de 2014

Sinceridade e obediência



[140] O círculo eterno

Obediência é unir os pontos de um círculo eterno. Obediência não é senão o outro lado da vontade criativa. Vontade é a vontade de Deus, obediência é a vontade do homem; os dois são um. A vida radical, conhecendo bem os milhares de problemas que traria sobre Ele, criou, e continua a criar, outras vidas que, embora incapazes de existir por si mesmas, por meio do desejo de obedecer podem partilhar do gozo de Seu ser essencial autodeterminado. Se cumprimos a vontade de Deus, a vida eterna é nossa – não mera continuidade da existência, pois esta em si mesma é desprezível como o inferno, mas um ser que é um com a vida essencial.


[179] Advertência

“Como posso saber que algo é verdadeiro?” Agindo segundo aquilo que sabes ser verdadeiro, e nada chamando de verdadeiro até que o vejas verdadeiro; mantendo a boca fechada até que a verdade faça-a abrir-se. Estás disposto a silenciar-se? Então que aflição tens se falares.


[181] Como ler as epístolas

A incerteza sempre reside no campo intelectual, nunca no prático. O que preocupa Paulo é claro o bastante ao coração sincero, embora esteja longe de ser claro ao homem cujo desejo de compreender está à frente de sua obediência.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

De perdão e de maravilhas divinas



[13] Impossibilidades

Ninguém que não consiga perdoar a seu vizinho poderá acreditar que Deus está disposto, e até desejoso, a perdoá-lo... Se Deus dissesse “Eu te perdoo” a um homem que odeia a seu irmão e se aquela voz de perdão alcançasse o homem, o que ela significaria para ele? Como o homem a interpretaria? Seria algo como “podes continuar a odiar. Não me importo. Foste alvo de grande provocação e, portanto, seu ódio está justificado”? Não há dúvidas de que Deus leva em consideração o que houve de errado, a provocação que houve: mas quanto maior a provocação, quanto maior a desculpa que se pode alegar para odiar, maior será a razão, se possível, para que aquele que odeia seja liberto do inferno deste ódio... O homem não pensaria que Deus amava o pecador, mas que Ele perdoou o pecado, o que Deus nunca faz [isto é, o que geralmente se chama “perdoar pecados” quer dizer perdoar o pecador e destruir o pecado]. Todo pecado encontra seu destino devido – a inexorável expulsão do paraíso da Humanidade de Deus. Ele ama tanto o pecador que não pode perdoá-lo de nenhuma outra forma senão banindo-o de Seu seio o demônio que o possui.


[26] Ordena que estas pedras virem pão

O Pai disse “isto é uma pedra”. O Filho não diria “isto é um pão”. Um ‘Fiat’ criador não pode contradizer outro. O Pai e o Filho são um só espírito. O Senhor podia sentir fome, estar faminto, mas não transformaria em outra coisa aquilo que Seu Pai havia feito. Não houve tal transformação ao alimentar as multidões. Peixe e pão eram peixe e pão desde antes... Havia, nesses milagres, e acho que em todos, apenas uma aceleração das aparências: fazer num só dia o que normalmente levaria mil anos – pois o tempo para Deus não é o mesmo que para nós. Ele o faz... Tampouco isso torna o processo mais miraculoso. Na verdade, a maravilha do milho que cresce é, para mim, maior do que a maravilha de alimentar milhares de pessoas. É mais fácil compreender o poder criativo que se manifesta de uma vez – imediatamente – do que as incontáveis, graciosas e aparentemente ignoradas maravilhas de um milharal.


[27] Sentimento religioso

No aspecto mais elevado da primeira tentação, que surge do fato de que um homem não pode sentir as coisas em que crê senão sob certas condições de bem-estar físico que depende do alimento, a resposta é a mesma: um homem não vive de seus sentimentos mais do que de pão.


[28] Sequidão

E quando [alguém] já não pode mais sentir a verdade, não deve, por isso, morrer. [Este] vive porque Deus é verdadeiro; e, tendo compreendido a palavra, pode saber que vive porque sabe que Deus é verdadeiro. Ele crê no Deus da visão anterior e vive, portanto, por aquela palavra quando tudo está escuro e não há visão.